SOBRE O PROJETO DE PESQUISA :
Este projeto de pesquisa intitulado Ethos de Violência constituído por alunos diversos em redes sociais várias: reflexões sobre a ciberviolência contra professores foi aprovado pela Decisões CTA-UAG-UFRPE no. 242/2017 e no. 135/2019 , é vinculado ao NUPEDE (UFRPE/UAG), está em vigência de 2017 a 2021 e é fomentado pelo PIBIC-CNPq. Ele norteia-se pela seguinte questões de pesquisa: Quais níveis e categorias do ethos de violência são encontrados em gêneros digitais variados produzidos por alunos variados em diferentes postagens de sites de redes sociais utilizados no Brasil? Como ele se caracteriza e se diferencia em cada site de rede social? Sua justificativa está na recorrência social do fenômeno, na pouca atenção já constatada por Silva (2014) que o tema recebe na academia e na sociedade, na grande naturalização da violência constatada por vários pesquisadores e na contribuição para a formação acadêmica dos estudantes do Curso de Licenciatura em Letras da UAG/UFRPE. Nosso objetivo geral é comparar os diferentes níveis do ethos de violência em diferentes sites de redes sociais, analisando textual e discursivamente gêneros digitais diversos produzidos por sujeitos discursivos estudantes que agridem professores publicamente em suas postagens. Os objetivos específicos traçados para o total de cinco anos da pesquisa são: 1) analisar discursivamente a ciberviolência contra professores oportunizada por diferentes gêneros digitais e ferramentas de sites de redes sociais, verificando como cada elemento contribui para a construção do ethos de violência; 2) analisar as imagens pejorativas e degradantes construídas pelos alunos seus professores em textos variados divulgados em diversos gêneros digitais em diferentes sites de redes sociais; 3) comparar as características do ethos de violência nos diferentes sites de redes sociais utilizados no Brasil; 4) categorizar e diferenciar os níveis/tipos do ethos de violência constatados, comparando-os entre as redes sociais; 5) analisar o discurso de professores e alunos sobre a ciberviolência sofrida pelos primeiros e produzida pelos segundos, através de entrevistas; 6) aprimorar o conceito de ethos de violência cunhado por Silva (2014), a partir de análises textuais-discursivas de corpora produzidos por sujeitos discursivos que se mostram como estudantes; 7) desnaturalizar o fenômeno da ciberviolência contra professores através da análise e da discussão do problema levantado pela pesquisa. Metodologicamente, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa (BAUER & GASKELL, 2002), do tipo aplicada e documental (GIL, 2009; MARCONI & LAKATOS, 2010; XAVIER, 2010), com procedimentos da Análise do Discurso (MAINGUENEAU, 2008) e da etnografia virtual (FRAGOSO, RECUERO & AMARAL, 2016; HINE, 2000; PEREIRA, 2012) e com o emprego do método indutivo (FLICK, 2013). A coleta dos dados dá-se in loco no campo virtual, de agosto a dezembro de cada ano do projeto, aplicando a observação não participante e a captura de tela via Print Screen das postagens e dos gêneros digitais dela decorrentes nos aplicativos das redes sociais gerados pelo sistema operacional do celular. Esses documentos, organizados em quadros e tabelas armazenados no Dropbox, serão as diferentes amostras do corpus estendido desta pesquisa guarda-chuva, uma para cada SRS, constituindo um acervo documental histórico que registra a materialização do discurso violento contra professores em gêneros digitais, assim como o ethos de violência, e que poderá ser revisitado e analisado por quaisquer pesquisadores. Com vistas a atender às exigências éticas em pesquisas científicas, os exemplares do corpus sofrem um exaustivo e rigoroso tratamento gráfico, no qual são cobertas todas as informações pessoais dos sujeitos e uma parte de suas fisionomias. Nosso corpus é, portanto, composto pelo total de textos digitais, as publicações, seus comentários, suas reações, suas respostas e seus novos recursos virtuais criados pelos diferentes sites de redes sociais ao longo dos diferentes períodos de coleta de dados. A análise dos dados segue os parâmetros teórico-metodológicos fixos traçados ao longo do amadurecimento pesquisa e as idiossincrasias de cada rede social, a fim de dar uniformidade às reflexões das diferentes amostras e aos procedimentos realizados pela coordenada e pelos diferentes alunos de iniciação científica em cada Plano de Trabalho vigente. Adotamos como aporte teórico a seguintes linhas de pesquisa: 1) a Análise do Discurso de linha francesa (também denominada como Estudos do Discurso) (MAINGUENEAU, 2016, 2015, 2013, 2010, 2008, 2007, 2006, 1998; POSSENTI, 2018, 2009); 2) a Análise de Gênero Textual, mais especificamente dos gêneros digitais, desenvolvida por brasileiros (ARAÚJO, 2007; MARCUSCHI, 2008, 2005, 2003; MARCUSCHI & XAVIER, 2004; XAVIER, 2011, 2004, 2002) e a abordagem sociodiscursiva dos gêneros realizada por Maingueneau (2013, 2010, 2006, 2008); 3) as Linguagens e Tecnologias, com os estudos sobre tecnologia (ARAÚJO, 2007), sobre virtualidade e hipertexto (LÉVY, 2014a, 2014b, 1999, 1996, 1993; CHARTIER, 2002, 2001, 1999; CRYSTAL, 2005), sobre redes sociais (ARAÚJO, 2007; ARAÚJO & BIASI-RODRIGUES, 2005; ARAÚJO & LEFFA, 2016; CASTELLS, 2013, 2005, 2003; RECUERO, 2016, 2014, 2009, 2007; FRAGOSO, RECUERO & AMARAL, 2016) e sobre ciberviolência (HOFFNAGEL, 2010; RECUERO, 2013; RODEGHIERO, 2012; ZUIN, 2012); 4) Pesquisas sobre violência escolar (CHARLOT, 2006; DEBARBIEUX, 2002; FONTES, 2010; PORTO, 2002; SPOSITO, 2001) . Esse arcabouço teórico sustentará os seguintes pressupostos: i) a ciberviolência é a agressão realizada em ambiente virtual ou utilizando qualquer TIC (HERRING, 2002 apud HOFFNAGEL, 2010; RODEGHIERO, 2012; LIMA, 2011, RECUERO, 2013); ii) o discurso violento é a produção discursiva que deixa conhecer a violência, pois ela pode se manifestar através de determinados discursos (HARTMANN, 2005); iii) o texto é o rastro do discurso e incorpora os ethé constituídos por sujeitos discursivos (MAINGUENEAU, 2013, 2010b, 2006, 2002); iv) o ethos de violência é a imagem de violência que o sujeito discursivo constrói para si ao produzir textos agressivos, que materializam um discurso violento, a fim de conquistar a adesão discursiva dos leitores (SILVA, 2014); v) os gêneros de discurso têm contratos genéricos e cenografias que interferem na constituição do ethos (MAINGUENEAU, 2013, 2010b, 2002); vi) os gêneros digitais são gêneros emergentes no contexto da tecnologia digital em ambiente virtual com uma textualidade eletrônica e característica advindas do hipertexto (MARCUSCHI, 2004; XAVIER, 2002; MARCUSCHI & XAVIER, 2004) ; vii) os sites de redes sociais (RECUERO, 2009) são sites de ambientes virtuais que proporcionam a conexão social das pessoas na internet e agregam vários gêneros digitais (CASTELLS, 2005; MARCUSCHI, 2008; MARCUSCHI & XAVIER, 2004; RECUERO, 2009) diferentes. Esperamos que os resultados obtidos solidifiquem a noção de ethos de violência em sites de redes sociais e desnaturalizem a ciberviolência, chamando a atenção dos sujeitos discursivos envolvidos nesse processo sociohistórico, tecnológico e discursivo. Desta forma, as análises e reflexões desenvolvidas colaborarão com o avanço da Análise do Discurso, a Análise de Gênero Textual e as reflexões sobre Linguagens e Tecnologias realizadas no Brasil. Institucionalmente, o referido projeto colaborará com a consolidação do grupo de pesquisa NUPEDE (Núcleo de Pesquisa em Discurso e Ensino) da UAG/UFRPE.